A miserabilização e a demagogia pequeno-burguesa

A miserabilização e a demagogia pequeno-burguesa

É tempo de eleição. É tempo de demagogia. Exércitos e exércitos de partidos, candidatos e apoiadores lançam-se ao campo de batalha em busca de votos. Armas azeitadas, campanhas publicitárias bem formuladas. Enchendo os tanques dessas verdadeiras máquinas de guerra eleitoral, um combustível de altíssima octanagem: a demagogia.

A manobra central, em torno da qual gira toda a engrenagem de manipulação e mentira das eleições burguesas, é a promessa de se estancar o já histórico processo de miserabilização do proletariado provocado pelo capitalismo em nível mundial. Homens e mulheres sérias, engravatados e não engravatados, percorrem favelas, becos e praças das cidades anunciando sua capacidade de instalar escolas, creches, hospitais, redes de transporte gratuito, saneamento básico universal – tudo em benefício dos trabalhadores. Prometem também salários dignos. Promessas falsas.

E o pântano onde se multiplica todo esse festival de alienação se chama democracia. À qual reformistas e socialdemocratas em geral consideram um valor universal – e ainda têm a falta de pudor de afirmar que a democracia de que falam seria a “democracia popular”, a “democracia proletária”, a “democracia verdadeira”, e não a “democracia burguesa”. Ora, se pode-se colocar penduricalhos na democracia, está-se supondo que ela é essencial, referência imutável, substantiva, independente da vontade de quem quer que seja. “Deve-se mudar o adjetivo, mas não mexam na democracia, que é um valor universal”, parecem raciocinar.

Bem, cada um que diga suas crendices e bobagens do jeito que quiser, mas, por favor, não em nome do marxismo. O estado e o governo propostos por Marx se chama ditadura do proletariado. E, pasmem senhores falsos marxistas, Marx não o propõe como um estado eterno, um valor universal. Mas, sim e enfaticamente, como um estado de transição a uma sociedade sem estado, ao comunismo. É disso que se trata. Propor a democracia e se dizer marxista, pois, é uma farsa.

Uma farsa muitíssimo bem construída pelos ideólogos da burguesia ao longo dos tempos das sociedades estruturadas em classes. Grécia e Roma viveram tempos áureos de uma democracia fundada na escravidão aberta. Hoje, os capitalistas se deliciam com a estupidez de socialdemocratas e reformistas, que erguem templos à democracia plantada sobre a escravidão assalariada. É disso que se trata. E que não se cometam injustiças com trotskistas e alguns dos autodenominados maoístas: eles também defendem e propõem variados tipos de democracias adjetivadas – que só existem em imaginações idealistas e infantilizadas.

Quem planta e cultiva a mentira sempre vai colher degeneração. São incontáveis, literalmente, incontáveis os casos de partidos e organizações políticas reformistas e socialdemocratas que se transformaram abertamente em bandos especializados em enganar o proletariado, em fazer uso do proletariado em proveito político e pessoal. Conhecemos muito bem o caso do Partido Revolucionário Institucional (PRI), do México, que, de herdeiro da gloriosa e heroica Revolução Mexicana de 1910, se transformou em uma gigantesca quadrilha. Mais exemplos? Observem a história de todos os países do continente latino-americano no século XX. E a dos países do centro do capitalismo também. Itália, Inglaterra, França, Espanha. Todos degenerados.

No Brasil, também possuímos exemplos preocupantes. Hoje já é claramente perceptível que o PT trilha o caminho da total burocratização e do oportunismo. Irrecuperavelmente, cremos. Há entre os seus quadros gente séria e honesta? Sim, sem dúvida, mas em minoria progressivamente menor. O PCdoB já fala em retirar a palavra ‘comunista’ de seu nome oficial e de sua sigla. Mais que isso, de há muito se transformou em um partido da ordem, um partido autenticamente democrático, empenhado na manutenção do capitalismo, mas um capitalismo, prometem, com “melhorias para os trabalhadores”.

A verdade, contudo, é que a miserabilização do proletariado integra a lógica estruturante do capitalismo. Ou seja, somente se pode acabar com o sofrimento progressivo dos trabalhadores destruindo o capitalismo. O que significa destruir primeiramente, como ato desencadeador do processo histórico de demolição das relações capitalistas, a derrubada do estado capitalista, o que só é possível – a história também o demonstrou fartamente – através da revolução proletária, o que só pode ser realizado através das linhas propostas por Marx/Engels e por Lênin. E não através de reformas e mais reformas hipoteticamente graduais, impossibilidade igualmente demonstrada pela história. E tanto a história o demonstrou, que os reformistas e socialdemocratas se viram na obrigação de abandonar seus velhos ideólogos (Bernstein, Kautsky etc.) e adotar um novo ídolo: Gramsci, tão reformista quanto os anteriores, mas um pouco mais sofisticado.

Para nós, os marxistas, o tempo atual, a larga conjuntura em que vivemos no Brasil, é de resistência. Não uma resistência passiva, recolhidos em gabinetes universitários e escritórios. Precisamos permanecer junto ao proletariado, ao seu lado nas suas lutas parciais, para, deste modo, acumularmos forças reais que nos possibilitem avançar política e organizatoriamente de forma quantitativa e qualitativa no quadro de agravamento da crise capitalista por que passa o sistema em nível mundial.

Venceremos!

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