Eleição de Boric leva reformismo e conciliação ao poder no Chile

Eleição de Boric leva reformismo e conciliação ao poder no Chile

Eleito no último dia 19/12 com 55,9% dos votos válidos, o candidato Gabriel Boric, da coalizão Aprovo Dignidade — que reúne a Frente Ampla e o Partido Comunista —, é o novo presidente do Chile. Boric derrotou, em segundo turno, o candidato da extrema direita chilena, José Antonio Kast, que obteve 44,1% dos votos.

Tão logo foi proclamado o resultado da eleição, Gabriel Boric repetiu o comportamento-padrão de praticamente todos os reformistas: Buscar a conciliação com os setores da burguesia e do imperialismo. Após conversar com o atual presidente de direita, Sebastian Pinera, Boric declarou: “Vou ser o presidente de todos os chilenos, porque acho importante ter interlocução com todos, e os acordos devem ser entre todas as pessoas, e não entre quatro paredes”. Exatamente como fizera Lula em 2002, ao editar a famosa “Carta aos Brasileiros” e também afirmar que “governaria para todos”.

Num longo discurso também feito no mesmo dia da eleição (19/12), Gabriel Boric reafirmou ainda mais a sua intenção de conciliar abertamente com a burguesia chilena. Sem o menor pudor ou traço de constrangimento, enalteceu a atuação dos meios de comunicação empresariais chilenos (leia-se: meios burgueses e inimigos dos trabalhadores) pela forma como se comportaram durante a eleição. E não parou aí. Dirigindo-se ao candidato derrotado da extrema direita (José Antônio Kast), Boric disse textualmente: “A par de nossas diferenças, saberemos construir pontes entre nós e que assim nossos compatriotas possam viver melhor. Porque o que nos une é o amor ao Chile e sua gente”.

Além de sinalizar uma completa rendição à direita no plano político, o discurso de Gabriel Boric também o fez no plano ideológico. Ao longo de toda a sua fala, por exemplo, pouquíssimas menções à palavra trabalhador e nenhuma menção a termos como proletariado, luta de classes, socialismo ou comunismo. No máximo, menções às mulheres chilenas em suas lutas contra a chamada discriminação de gênero, expressão das pautas identitárias que tanto fazem a alegria das burguesias e do imperialismo no mundo inteiro. Pautas cujo objetivo central é impedir o desenvolvimento de uma genuína consciência de classe proletária e revolucionária.

A eleição de Gabriel Boric no último dia 19/12 foi a resultante de um processo de mobilizações de massa conduzidas pelo reformismo a partir do segundo semestre de 2019. Durante vários meses, milhões de chilenos ocuparam as ruas das maiores cidades do país, em seguidos protestos contra o desemprego e a alta do custo de vida. Apesar da grande mobilização, porém, a energia e a consciência dos trabalhadores foi sendo criminosamente direcionada para a legitimação do parlamento e da institucionalidade, como ficou comprovado na proposta de uma assembleia nacional constituinte surgida após aquele ciclo de protestos. E não poderia ser diferente, na medida em que era este (exatamente este) o objetivo do reformismo: Reificar a democracia, demarcando limites claros para aquelas mobilizações que, ao final, desembocaram numa transição burguesa e sob controle da burguesia. Exatamente como ocorrido após as mobilizações da chamada Primavera Árabe.  Afinal, como disse Lênin em ‘Que Fazer’, obra de referência para todos nós, comunistas: “Sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário”.

Não é à toa que a vitória eleitoral de Gabriel Boric vem sendo comemorada com grande entusiasmo por todos os partidos da esquerda reformista brasileira, ansiosos de repetir aqui, com Lula, a mesma performance do candidato chileno.

De nossa parte, como marxistas leninistas que somos, continuaremos reafirmando nossa crítica à democracia e às eleições burguesas, que na verdade são formas de mistificação visando embotar a consciência do proletariado e manter a dominação capitalista.

Venceremos!

Share