O  porquê  do  genocídio  em  Gaza

O porquê do genocídio em Gaza

Neste exato momento, as forças militares israelenses continuam bombardeando pesadamente a população civil palestina da Faixa de Gaza, trucidando crianças, velhos, mulheres, em número que já ultrapassa a casa das 12.000 pessoas, contadas as últimas cinco semanas. Um genocídio?  Sem dúvida. Mas, mais que nunca, é preciso especificar o significado desta palavra. Usa-se muitas vezes o termo genocídio de maneira equivocada, limitando-se a identificar apenas o assassinato simultâneo e/ou continuado de muitas pessoas. Churchil, então primeiro-ministro britânico, ordenou um bombardeio à cidade alemã de Dresden, na II Guerra, que resultou na morte de cerca de 400 mil civis. Mas tal ação, tão a gosto do capitalismo, colonialista ou imperialista, não tipifica rigorosamente o conceito de genocídio – este ainda mais tenebroso. Visto a atual campanha  de horror e crueldade desencadeada pelo imperialismo em Gaza, através do estado fascista de Israel, é necessário buscar as causas e motivações mais profundas desta ação, esta sim, verdadeiramente genocida.

É preciso que fique muito claro, como ponto de partida e de chegada: Israel tem como raiz programática, base de fundação do seu próprio estado, a extirpação de toda população de origem não judaica do território original da Palestina, população de etnia árabe. Ora, se estamos falando de destruição planejada de uma etnia em favor de outra etnia, estamos falando em genocídio. É disso que se trata.

Os fundamentos-base dos princípios da ideologia sionista, em que se assenta finalmente o atual estado de Israel, se originam na mitologia bíblica. O termo Sion, em hebraico, significa Terra Prometida. E prometida a quem, segundo a mito bíblico? Ao povo judeu. E que terra era esta, ainda segundo o mito Gênesis (ainda a palavra…)? Uma certa terra de Canaã, que abarcaria praticamente toda a região que hoje conhecemos como Oriente Médio.

Bem. Toda esta mitologia racista não passa de um rosário de mais que criminosas mentiras. Estudos sérios – mais de um, mais de mil – desmentem a falsidade do discurso pelo qual um tal deus Javé teria escolhido uma tribo originária de um pedaço de terra então chamada Judá (no sul da Palestina) como o povo eleito, o povo puro, o povo – único povo – que teria o direito à felicidade assim na terra como no céu. Todos os outros povos, todas as outras etnias, seriam geneticamente (a palavra outra vez…) inferiores. E a toda esta montanha de invencionices criminosas se juntaram mais e mais mentiras, tomadas pelos fundadores e comandantes, atuais e passados, do Estado de Israel como verdades absolutas, ortodoxias que orientam e determinam sua política cotidiana e para toda a eternidade, amém. Antropólogos e historiadores sérios desmentem a falada escravização do povo judeu no Egito, assim como a existência do tal de Moisés – um dos mitos que se têm mostrado mais úteis a todo um conjunto de eventos genocidas postos em prática pelo estado de Israel desde o período de sua implantação, antes da fundação oficial, em 1948.

Nos anos finais da II Guerra Mundial, a Inglaterra (que administrava a Palestina desde o final da I Guerra Mundial com a derrota do Império Otomano, que por sua vez dominava a região há quase 600 anos) criou a chamada Brigada Judaica, formada por judeus que fugiam do nazismo,  como milícia auxiliar às suas forças armadas regulares. E imediatamente antes do fim da guerra, armou apropriadamente e equipou tais milicianos e os destinou à ocupação da Palestina. Estamos falando, pois, da primeira investida genocida do imperialismo sobre os palestinos, que, desarmados, foram barbaramente assassinados pelos milicianos em busca de suas terras. É sobre, pois, este tapete de sangue palestino que se erguem os primeiros pilares do estado de Israel. A partir desta situação de fato, a ONU, através de uma proposta do representante brasileiro na entidade, cria formalmente em 1948 dois estados na Palestina – um judeu, outro palestino. Na realidade, como todos sabiam e previam, somente um deles sobreviveu e prevaleceu, o estado de Israel. Aos palestinos – que habitavam a região desde o século X –, nada. Só morte, perseguição, fome, exílio, miseráveis campos de refugiados. Este é o quadro atual.

É surpreendente a desfaçatez daqueles que, dizendo defender hoje a proposta da existência de dois estados na região, conferem descaradamente legitimidade ao estado de Israel diante da inexistência de um estado palestino. Como bem orienta a Bíblia Sagrada, os palestinos são tratados em Israel como seres inferiores, aos quais são negados os mais elementares direitos, inclusive o direito à vida. Que se enfileirem neste batalhão de cínicos os estados democráticos mais destacados do universo capitalista: França, Inglaterra, Alemanha etc. etc. Estados Unidos? Na realidade, os Estados Unidos da América do Norte são, como se diz na linguagem judiciária e policial, os mandantes do crime. Israel possui armas atômicas – nem é preciso perguntar quem as forneceu. Os EUA dão milhões de dólares diariamente a Israel para matar palestinos.

É como diz uma já antiga sentença: Israel não passa de um transatlântico norte-americano ancorado em águas do Oriente Médio. De lado a metáfora, precisa, é mais que real a necessidade de o imperialismo possuir um posto avançado na região. Observe-se que à época da fundação do estado israelense predominava na região a ideologia do panarabismo, sob forte incentivo, inclusive econômico, da União Soviética, com propostas já avançadas de criação de uma única república árabe, o que chegou a resultar na fundação da República Árabe Unida (RAU), unificando Egito e Síria, sob a liderança de Gamal Abdel Nasser e Hafez Assad, respectivamente. Note-se que Assad é pai do atual presidente da Síria, que só não foi deposto por ação dos Estados Unidos naquela pirataria chamada Primavera Árabe em razão da mais que providencial ajuda da Rússia.

Que ninguém se iluda. Com o avanço da crise capitalista e o simultâneo avanço da China no quadro econômico e geopolítico mundial, o imperialismo não vai abrir mão de um eficiente e obediente servo estrategicamente situado no lado oeste do Oriente Médio. Mais que isso, o imperialismo precisa aprofundar sua presença na região – e a farsa criminosa da Primavera Árabe não passou de uma iniciativa neste campo. Junte-se a isso a feroz ideologia expansionista que cimenta a existência de Israel e teremos, então, um estado fascista, ancorado no racismo, como eficiente aliado a serviço do imperialismo. O messianismo racista, sabe-se pela história, é fator de unificação dos mais rasteiros anseios da pequena burguesia e do lumpesinato. Hitler que o diga. Somam-se evidências e mais evidências históricas, políticas e ideológicas de que Israel é um estado racista. E como tal precisa ser denunciado e combatido. E o que faz o tal Ocidente civilizado? Quando as coisas chegam a um estágio escancarado de crueldade, quando o nível de atrocidade atinge um ponto indisfarçável como no quadro dos bombardeios atuais sobre Gaza, quando isso acontece, começam a surgir protestos falsamente humanistas aqui e ali. Mas quando passada a fase mais selvagem da ação dos nazistas israelenses, tudo voltará ao normal: o estado assassino de Israel não terá perdido sua legitimidade diante dos Macrons da vida.

A mídia, a velha mídia capitalista democrática, continuará mentindo. Com seus bem pesados trinta dinheiros na algibeira, nossos repórteres e comentaristas continuarão chamando os militantes do Hamas e do Hizbollah de terroristas. O exército israelense, não: o exército israelense será tratado como legítimo defensor da causa da liberdade e da civilização. É preciso uma ação cotidiana de denúncia desses falsários fantasiados de jornalistas sérios e bem comportados. É preciso denunciar ativamente os César Tralli e os Jorge Pontual da mídia por aquilo que eles realmente são: mentirosos vendidos e pervertidos. Não se trata, aqui, de qualquer desabafo, mas de uma proposta concreta de uma campanha sistemática da esquerda contra a mídia burguesa, inclusive dando nome aos bois. Aliás, enquanto não se livrar da ideologia democrática e suas variáveis, como a tal da liberdade de opinião, a atual maioria da esquerda continuará patinando no lodo da inação e da inconsequência. E da conivência.

A luta é longa. É preciso compreendê-la, saber de sua natureza e, mais importante, o que está em jogo e quem joga o jogo.

Nossa luta é uma luta anticapitalista. Qualquer anseio, qualquer sonho de solidariedade humana e libertação dos trabalhadores passa pela derrubada do capitalismo. Derrubando o capitalismo, através de uma revolução proletária, os trabalhadores derrubarão as bases de todas e quaisquer práticas racistas e genocidas.

Viva a Palestina livre!

Venceremos!

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