A herança da Revolução Russa de 1917

A herança da Revolução Russa de 1917

Todo o transcorrer da história da humanidade contempla momentos e períodos tão agudos quanto decisivos em que os homens se lançaram em duras campanhas em busca da concretização de seu potencial libertário de plenitude e felicidade. Desde a gigantesca rebelião de Espártaco – como símbolo e síntese das lutas primordiais do proletariado nos estados da Antiguidade escravagista – até os dias de hoje os trabalhadores dão exemplos cotidianos de resistência à exploração e à opressão.

E a Revolução Russa de 1917 emerge de todo este desenvolver histórico de embates classistas como a mais significativa e importante epopéia pela concretização e aprofundamento da humanidade dos homens. Por várias razões. A primeira e principal delas porque ancorada no propósito geral de universalização e de extinção definitiva da diferença social entre os homens, ou seja, extinção das classes sociais. A segunda, porque sustentada em condições materiais em que este propósito configurava uma utopia concretizável. A terceira, porque fundamentada em uma teoria – o marxismo – que possibilita a compreensão e transformação das sociedades e do desenvolvimento histórico. Tudo isso, mais um conjunto absolutamente essencial de lições decisivas para a luta geral do proletariado de todo o mundo, fazem da Revolução Russa um acontecimento histórico sem par.

RAZÕES DECISIVAS

A Revolução Russa provou também – para desespero da burguesia – que o socialismo, mesmo em meio a dificuldades de toda natureza, é capaz de fazer avançar qualitativamente o nível da vida material, intelectual e cultural das massas. A Rússia, assim como todo o Leste Europeu (exceção da região da hoje República Checa e do leste alemão), constituíam anteriormente sociedades fortemente marcadas pelos restos de feudalismo, baixa industrialização, miséria no campo e na cidade, precariedades de toda natureza. Mesmo com a enorme destruição das forças produtivas operada pela II Guerra, já ao final dos anos 50 do século passado toda a região registrava índices de crescimento e bem estar similares ou mesmo superiores aos países capitalistas industrializados mais desenvolvidos. Não se pode jogar tudo isso pela janela, como faz a esquerda de corte trotsquista.

Assim como não se pode dizer que a União Soviética e o bloco socialista do Leste Europeu “se desintegrou”, como se pudéssemos afirmar que as causas da queda tenham sido exclusivamente internas. Na realidade foi a conjugação da adoção de estratégicas estranhas ao marxismo com a permanente agressão imperialista que provocaram a derrota do socialismo no Leste Europeu. De resto, não resiste à análise teórico-histórica a asserção do trotsquismo de que a base dos desvios e vícios esteve na estratégia da construção do socialismo em um só país, tese que grosseiramente atribuem a Stálin, quando na realidade se trata de uma formulação de Lênin em seu folheto “Sobre a palavra de ordem dos Estados Unidos da Europa”, de 1915.

CAUSAS DA DERROTA
Entre os graves desvios, ninguém nega, está o abandono do marxismo ortodoxo por Stálin em favor de uma estratégia reformista interna e externamente à URSS, o que inclusive se concretizou na garantia da pequena propriedade individual no campo e na ausência de políticas diretamente voltadas para a extinção da diferença entre trabalho manual e intelectual, tarefa histórica que em Marx constitui o eixo da construção/desconstrução do socialismo revolucionário em direção ao comunismo.

Para os historiadores marxistas, permanece o desafio da formulação científica das causas da atual derrota do socialismo no Leste Europeu. O que deve ficar fora de questão é a defesa do patrimônio da Revolução Russa por todos empenhados na luta do proletariado mundial.

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