O 10 de Dezembro de Bolsonaro

O 10 de Dezembro de Bolsonaro

Como o Movimento Marxista 5 de Maio tem ressaltado em seus artigos, Bolsonaro quer (e deseja) acumular forças junto a sua base social ultrarreacionária para, talvez em médio prazo, dar um golpe que lhe permita implementar seu projeto fascista de governo. Bolsonaro quer (e deseja) organizar a sua ‘Sociedade 10 de Dezembro’.

Criada em 1849 por Luís Bonaparte como uma aparente ‘sociedade beneficente’, a Sociedade 10 de Dezembro foi a base de apoio e suporte político para o golpe de Estado de 2 de dezembro de 1851, quando Napoleão III destituiu a Assembleia Nacional Francesa da II República. Os “dezembristas”, como eram chamados os membros da ‘Sociedade’, faziam parte do lumpemproletariado de Paris, termo introduzido por Marx em ‘O 18 Brumário de Luís Bonaparte’.

Ressalvadas as especificidades históricas da França de 1849 e do Brasil de 2020, é possível contudo identificar a tentativa de acúmulo de forças no âmbito parainstitucional — e obviamente direcionado ao confronto com a institucionalidade burguesa — como o elemento comum às duas conjunturas políticas. Mas, à diferença da França de Napoleão III ou mesmo da Itália fascista de 1922, quando os camisas negras de Mussolini tomaram o poder na conhecida ‘Marcha sobre Roma’, no Brasil de 2020 Bolsonaro ainda não tem (ou mesmo já perdeu) as condições (objetivas e subjetivas) para tanto.

O aprofundamento da crise capitalista mundial, com o correspondente agravamento do desemprego e a disseminação cada vez mais intensa da pandemia de covid-19, já haviam aumentado o isolamento do governo no interior do próprio campo burguês, como provam as seguidas desavenças de Bolsonaro com Legislativo e Judiciário, em torno de temas como a ajuda financeira a estados e municípios e as investigações sobre a disseminação de FakeNews por membros de sua família. Investigações estas conduzidas pela Câmara dos Deputados e pelo STF.

As demissões de Henrique Mandetta, Sergio Moro e Nelson Teich aumentaram ainda mais a temperatura política e o isolamento do governo, criando obstáculos adicionais para que Bolsonaro continue acumulando forças com o objetivo de implementar seu projeto de extrema direita no país.

Mais recentemente, a tensão provocada pela apuração das acusações de Moro no STF — de que Bolsonaro queria interferir na Polícia Federal para blindar um de seus filhos (Flávio Bolsonaro), acusado de peculato e lavagem de dinheiro — foi multiplicada por denúncia do empresário Paulo Marinho, que acusa Flávio de ter sido avisado com antecedência de operações policiais deflagradas contra seu ex-assessor parlamentar, Fabrício Queiroz.

Numa expressão típica do mundo do box, pode-se dizer que o somatório dessas denúncias e eventos recentes vem empurrando Bolsonaro para as ‘cordas do ringue’. O que também explica suas mais recentes movimentações políticas no sentido da radicalização junto à sua base social de apoio, composta por classe média protofascista, fiéis de igrejas evangélicas também fascistas e de ultradireita, setores das políticas militares e da baixa oficialidade das Forças Armadas, além de milicianos do Rio de Janeiro.

As manifestações políticas semanais em frente ao Congresso Nacional e ao STF, nas quais bolsonaristas vêm abertamente pedindo intervenção militar e uma ruptura institucional, são a ponta do iceberg da reação de Bolsonaro ao seu próprio isolamento no quadro da atual conjuntura. Afinal, Bolsonaro sabe (e já percebeu) que sua única chance de reação está na radicalização do confronto como tentativa desesperada de criar coesionamento e organicidade no interior de sua base social de apoio. Coesionamento e organicidade que, no entanto, ainda não são suficientes para lhe proporcionar o necessário suporte político a uma tentativa de golpe de Estado.

Em outra frente de atuação, Bolsonaro aposta no aprofundamento da militarização do seu próprio governo, como forma de cooptar o apoio das Forças Armadas ao seu projeto político. Atualmente, cerca de 3 mil militares já ocupam cargos de primeiro, segundo e terceiro escalões do governo Bolsonaro. Os militares também estão presentes em 8 dos 22 ministérios do atual governo. O mais recente movimento dessa militarização foi a ocupação de postos-chave do Ministério da Saúde por oficiais da reserva, promovida pelo ministro interino da pasta, o general Eduardo Pazuello.

Se Bolsonaro conseguirá ou não produzir um maior coesionamento de sua base de apoio para um golpe fascista, é coisa que só a dinâmica da luta de classes, no interior da atual conjuntura, poderá efetivamente responder.

A luta contra Bolsonaro e seu projeto ultrarreacionário, porém, não pode ser feita como querem reformistas, trotskistas e oportunistas de todos os matizes, que não se cansam de propor a criação de ‘frentes de defesa da democracia’ ou coisas do gênero. Não.

Para nós, comunistas, tanto as propostas reacionárias de Bolsonaro quanto as de qualquer outro tipo de governo burguês devem ser sempre combatidas a partir de uma estratégia e de um ponto de vista essencialmente proletários. Sem conciliações ou qualquer tentativa infame de preservar a institucionalidade burguesa. Este é o caminho.

Venceremos!

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