Pelo poder dos trabalhadores

Pelo poder dos trabalhadores

Fenômeno de característica mundial, a institucionalização e acomodação das esquerdas é produto histórico da vitória (mesmo que não definitiva) da burguesia no campo ideológico. Sobretudo nos últimos 30 anos, a hegemonia ideológica burguesa e pequeno-burguesa — também expressa num crescente individualismo e hedonismo — foi ainda mais reforçada pela emergência das chamadas pautas identitárias, que tanto contribuem para dificultar a formação de uma genuína consciência proletária, uma genuína consciência de classe.

Como país periférico do capitalismo e diretamente situado na órbita de influência político-ideológica do bloco imperialista liderado por EUA e União Europeia, o Brasil e suas ‘esquerdas’ obviamente não ficaram imunes a tais influências deletérias, que ganharam ainda mais corpo a partir da queda do muro de Berlim e do fim da URSS. Queda esta, por sinal, sobejamente festejada por reformistas e…    …trotskistas.

Como corolário inevitável dessa situação histórica, os ataques e as tentativas cada vez mais agressivas no sentido de desacreditar o marxismo leninismo formaram (e continuam formando) o par dialético inseparável da dominação ideológica burguesa. No Brasil, tal dominação se materializa numa esquerda quase que inteiramente parametrizada pelo ideário democrático pequeno-burguês e pelas lutas identitárias. A burguesia, sinceramente, agradece de coração.

Em seu último artigo, e na contramão do oportunismo e da degeneração que tanto caracterizam a esquerda trosko-reformista, o Movimento Marxista 5 de Maio (MM5) denunciou mais uma farsa que se tenta encenar no Brasil: o movimento ‘Direitos, Já pela Democracia’, uma tentativa cínica e oportunista de criar uma frente (na verdade, um Frankenstein repugnante) composta por Guilherme Boulos (PSOL), Fernando Haddad (PT), Fernando Henrique (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Luciano Huck e várias outras “personalidades” dos mundos artístico, jurídico e político.

A farsa que mais uma vez se tenta encenar é a mesma que foi montada nos anos 80 a partir do movimento ‘Diretas, já’ e que assegurou uma ‘transição burguesa’ e institucional da ditadura para a ‘democracia’. Farsa da qual a esquerda trosko-reformista é agora cúmplice. Mais uma vez.

Em 19 de junho deste ano, e como parte da mesma farsa política, a Frente ‘Fora Bolsonaro’ lançou um manifesto na internet intitulado ‘Em defesa do emprego, da vida e da democracia’, no qual pressiona o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a abrir um dos mais de 40 processos de impeachment já protocolados no Legislativo. De caráter inevitavelmente oportunista e pequeno-burguês, o referido ‘manifesto’ foi concluído com a afirmação de que “Bolsonaro é a maior ameaça à democracia brasileira neste momento”.

Importante destacar que nós, do MM5, achamos que, na hipótese de uma luta pelo ‘Fora Bolsonaro’, ela só poderia se dar a partir de uma diferença qualitativa fundamental: ao contrário dos reformistas e do oportunismo pequeno-burguês — que desejam soluções burguesas para as crises burguesas, reforçando a institucionalidade —, essa luta deveria conter a bandeira ‘Fora Bolsonaro, todo poder aos trabalhadores’. Ou seja: nenhuma conciliação com as soluções ‘democráticas’ e institucionais burguesas ou pequeno-burguesas. Nenhum pacto por transições burguesas em relação a um possível cenário pós-Bolsonaro. Nenhuma cumplicidade com a criminosa farsa e mistificação que a burguesia tenta encenar neste momento, com apoio dos reformistas.

Que fique absolutamente claro: o MM5 não participa de ‘frentes políticas’ com os atuais partidos e organizações que compõem a esquerda trosko-reformista no Brasil, como PT, PCB, PCdoB, PSOL, Unidade Popular e congêneres. Não guardamos nenhuma identidade programática ou ideológica com tais organizações. Ao contrário delas, não acreditamos em soluções burguesas para crises burguesas e continuaremos denunciando a farsa e o oportunismo. É por isso que não assinamos ‘manifestos pela democracia’ ou coisas do gênero.

Com uma esquerda cada vez mais institucional e acomodada como a brasileira, não é à toa que as maiores dificuldades enfrentadas por Bolsonaro para implementar seu projeto fascista de poder advêm não da ‘esquerda’ propriamente dita, mas do interior do campo burguês. Não há no momento, por parte da esquerda brasileira, nenhuma tentativa efetiva de mobilizar os trabalhadores para lutarem por seus direitos. Nenhuma tentativa (por mínima que seja) de organizar greves ou paralisações. Pior: aproveitando-se do fato de que a pandemia do coronavírus impôs medidas de distanciamento social, a esquerda reformista invocou essa situação para ‘justificar’ ainda mais a sua completa imobilidade e acomodação. Bolsonaro e a burguesia, mais uma vez, agradecem de coração.

Nós, comunistas do MM5, continuaremos denunciando a farsa que se pretende montar com a tentativa de impor uma transição burguesa a um possível cenário pós-Bolsonaro. Somente uma estratégia proletária, ancorada no marxismo leninismo, será capaz de responder aos reais interesses da classe trabalhadora. Sem mistificações.

Venceremos!

 

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