O Big Brother Brasil e o bolsonarismo

O Big Brother Brasil e o bolsonarismo

Com audiência superior a 60 milhões de pessoas em todo o país, o programa Big Brother Brasil (BBB), da TV Globo, é na atualidade uma das mais acabadas expressões do hedonismo, do consumismo e do superficialismo que tanto caracterizam a ideologia burguesa e pequeno-burguesa neste tempo presente do modo de produção capitalista. Tempo a que denominamos neoliberalismo. Tempo de imediatismo e irreflexão.

A base mesma sobre a qual repousam esse hedonismo, esse consumismo e esse superficialismo — que conformam os eixos centrais e estruturantes do Big Brother Brasil e de todas as tensões dramáticas, ações, conflitos e expectativas dos participantes do programa — são contudo o individualismo e a competição. Molas mestras e essência ideológica do capitalismo, o individualismo e a competição conformam e parametrizam o próprio regulamento geral do BBB, que classifica os participantes do programa em “vencedores” e “perdedores”, recompensando os “vencedores” com um prêmio superior a R$ 1 milhão de reais e projeção midiática. E estigmatizando os “perdedores” como “eliminados” e “fracassados”.

Para mais facilmente se assegurar de que toda essa nefasta ideologia e seus simbolismos sejam efetivamente promovidos, legitimados e reificados, não é à toa que a direção do BBB escolhe a dedo quais serão os participantes do programa. Todos eles pessoas emocionalmente frágeis, frustradas, consumistas, com compulsão de ‘subir na vida’, cheias de ressentimentos e preconceitos pequeno-burgueses. É disso que o Big Brother precisa para funcionar.

Presente em todos os momentos do programa, o consumismo desenfreado também atua como um dos ‘fios condutores’ que unem e atravessam os comportamentos egoístas e competitivos dos participantes do Big Brother Brasil. Começando pelo fato de o programa ser, na verdade, uma disputa para ver quem, entre os participantes, se apossará do cobiçado prêmio de mais de R$ 1,5 milhão. Prêmio que, tanto em termos reais quanto simbolicamente, abre ainda mais as portas do consumo a quem o receber.

Mas o consumismo também opera em outro nível, não resumindo-se ao ato de compra propriamente dito. É o consumismo que, enquanto ideologia, também representa o ato de consumir e comprar como um modo de existência e um estilo de vida. Como um meio para obtenção de prazer a qualquer custo. Como uma forma de estar no mundo. Uma forma de ser e estar que, dentro e fora do BBB, é cada vez mais “naturalizada” pelos aparatos burgueses de dominação ideológica no interior das formações sociais capitalistas.

No Big Brother, por exemplo, esse modo de ser e estar — com seu correlato individualismo, competição, hedonismo e consumismo desenfreados — são apresentados e representados como parte de uma suposta “essência humana”. Algo de que ninguém, quer individual ou coletivamente, poderia escapar.

É o conhecido modus operandi da ideologia burguesa, que em suas representações do mundo omite o caráter histórico de sua própria existência. Como se os valores burgueses e pequeno-burgueses fossem “eternos”, impossíveis de modificar ou superar.

Para nós, marxistas, isto é evidentemente inaceitável. Como materialistas dialéticos que somos, não acreditamos em “essência humana” e outras bobagens e mistificações que tanto caracterizam o idealismo. Como toda ideologia, os valores que estruturam o Big Brother Brasil não são “eternos” ou “naturais”, mas o produto histórico da dominação burguesa, no país e no mundo.

E o que Bolsonaro e o bolsonarismo têm a ver com o Big Brother Brasil? Resposta: tudo, absolutamente tudo. A exemplo dos demais integrantes do programa, Bolsonaro é super competitivo, preza o individualismo sobre qualquer outro princípio ou valor, é superficial e faz apologia da violência física e emocional como um modo de existir. Portanto, Bolsonaro com certeza faria muito sucesso no BBB.

Que fique claro: em nossa crítica ao Big Brother Brasil, não assumimos uma posição moralista, como fazem setores religiosos e de extrema direita e parte da pequena-burguesia, que quase sempre acusam o programa de ‘estar degenerando’ os costumes vigentes. Nossa crítica, ao contrário, direciona-se ao programa enquanto uma das manifestações mais alienantes da indústria cultural, no Brasil e no mundo, a serviço do atraso no nível de consciência do proletariado. É disso que se trata.

Venceremos!

Share