Cultura e humanidade

Com a falsa humildade da subserviência dissimulada, os arautos do capital incrustrados na academia burguesa lançaram em uníssono o grito de guerra posmodernoso de uma revivida antropologia obscurantista ouvido no alvorecer do neoliberalismo: “Tudo é cultura! Tudo é cultura!”

Não, nem tudo é cultura. Cultura são todos os saberes e fazeres que concretizam e ampliam a humanidade dos homens, entendida esta fundamentalmente como exercício da liberdade e do espírito crítico. Esta definição sintetiza o posicionamento sustentado pelo poeta e romancista alemão Wolfgang von Goethe, um dos gigantes da arte libertária de todos os tempos, em seu debate travado no início do século XIX com o também romancista alemão Herder, que defendeu no geral a posição de que não existiriam parâmetros para julgamento de atos, hábitos, conhecimentos e costumes dos grupos humanos.

Ora, a alegada inexistência de parâmetros é imobilista e reacionária. Se blindada a realidade social à crítica, só nos restaria o conformismo e a justificação do fanatismo religioso, da opressão e da miséria. É este método que recomenda, como respeito ao ‘outro’, o culto ao misticismo e à fome imperantes, por exemplo, na Índia, para onde acorrem levas de desocupados burgueses em jornadas turísticas que comportam, entre outras coisas, a contemplação de cadáveres de indigentes boiando no Rio Ganges.

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