Copa América: mentiras e oportunismo

Copa América: mentiras e oportunismo

A parcela voluntarista e pequeno-burguesa da esquerda (trotskistas e reformistas de todos os matizes incluídos) assombrou-se com a decisão de Bolsonaro que resolveu trazer para o Brasil a Copa América. Demonstram não saber que Bolsonaro, ao socorrer a Conmebol para sediar o torneio no país, busca alavancar os negócios da burguesia e ao mesmo tempo dar continuidade ao seu projeto político fascista.

Esta parte da esquerda parece acreditar naquela imagem, tão inocente quanto perniciosa, do esporte como a união dos povos de todo o mundo, pela fraternidade universal, bem ao gosto do hino da Copa de 1970, Pra frente Brasil. Mas não. Não seria a primeira vez que um líder fascista busca valer-se de eventos esportivos para sua propaganda ideológica. Mussolini adotou o clube de futebol Lazio como instrumento de propaganda do regime. Hitler usou as olimpíadas de 1936 para promover a ideologia nazista.

Historicamente os esportes sempre tiveram entrelaçamento com a guerra. Ainda na antiguidade clássica, no berço das olimpíadas, a Grécia antiga usava os esportes para o treinamento de atividades militares. Arco e flecha, tiro ao alvo, lançamento de pesos e o próprio termo lutas marciais (de guerra) são referências bélicas inegáveis. Embora deva-se ressaltar que esportes são anteriores à própria existência do Estado — e logo da política. Tribos primitivas, inclusive no território brasileiro, já exerciam atividades esportivas.

É na modernidade, porém, que os esportes tornam-se elemento tipificador do conceito de nação para a extrema direita. E essa pátria é xenofóbica e racista, necessariamente excludente e adepta dos ideais supremacistas. Bolsonaro sabe disso e por esse motivo já vestiu a camisa de diversos times e abraçou a Copa América.

É importante salientar, contudo, que a ideia de nação, para a esquerda revolucionária, tem outro caráter. Visa a identificação de um grupo social contra a opressão de nações estrangeiras. A própria formação da URSS – escrita em sua Constituição – salvaguardava as identidades dos povos que a compunham em contraposição à opressão czarista. As lutas de libertação em todo o mundo tiveram vieses de esquerda. Delas advieram importantes revoluções de caráter socialista, como a chinesa, a vietnamita, a nicaraguense e a moçambicana. O bolivarianismo também tem essa mesma concepção de nação. Inclusive o uso dos esportes, como no caso de Cuba, tem o objetivo de propaganda de um estado socialista – sem fome, sem analfabetismo e sem miséria, apesar das dificuldades gigantescas.

No entanto. no Brasil um esporte de massas como o futebol torna-se o meio ideal para Bolsonaro propagar seu ideário fascista. Esse terreno já fora preparado durante a ditadura militar. Médici valeu-se da conquista da Copa pela seleção de 1970 em prol do regime militar. A ideia de uma nação unida e única visa convalidar a opressão praticada pelas classes dominantes sobre o proletariado.

O ensaio de resistência dos atuais jogadores da seleção de futebol não passou de uma encenação farsesca. Não há nenhum sinal, por mais tênue que seja, de que seus jogadores tenham qualquer engajamento político que ultrapasse os padrões midiáticos. Suas preocupações são seus contratos milionários, mansões, festas e carros luxuosos. Representam bem a desfaçatez desavergonhada da pequena-burguesia nacional.  Mesmo as questões que envolvem os valores humanos mais elementares, como a vida e a saúde, são tratadas com indiferença ou o individualismo mais vil. “O que vou ganhar com isso? Quantos milhões vou perder?”, devem ter sido as perguntas que os levaram a sua decisão.

Bolsonaro quer – e muito provavelmente conseguirá – usar os eventos esportivos para consolidar sua base. Por seu lado, os partidos da esquerda eleitoreira dividem-se entre apoiar o impeachment agora ou fazê-lo sangrar até 2022. Bolsonaro segue seu projeto fascista em velocidade de cruzeiro e sem maiores atribulações. Mesmo a CPI – tão entusiasticamente defendida por esses partidos – não terá fôlego até as próximas eleições e terá o destino de todas as outras CPIs, ou seja, gerar uma pilha de papéis inúteis. Não nos deixemos cair nas ilusões democráticas da esquerda trosko-reformista. É preciso que a vanguarda proletária dirija o proletariado para resistir aos ataques aos seus interesses de classe, a sua saúde, a sua vida.

É preciso organizar já um partido que, aliado verdadeiramente aos trabalhadores, lute e resista aos ataques fascistas contra nossa classe. É preciso dizer que o que queremos é a construção de uma nação realmente livre de todos os vícios das sociedades de classes. É preciso lutar pelo socialismo e rumo a sociedade comunista!

Venceremos!

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