Tropas trumpistas invadem o Capitólio

Tropas trumpistas invadem o Capitólio

Os fervorosos adoradores da democracia entraram em pânico quando a mídia mundial abriu manchetes para noticiar a invasão, na última quarta-feira (6/1), da sede do parlamento nacional dos Estados Unidos da América do Norte por um enfurecido grupo de aliados do presidente Donald Trump. Como assim?, perguntaram-se democratólatras de todo o mundo diante do indiscutivelmente grave, gravíssimo, atentado à sua deusa democracia. Momentos antes, Trump fez um pronunciamento em um comício realizado nas cercanias do Capitólio, o palácio que sedia a instituição-síntese da democracia norte-americana, convocando seus entusiasmados apoiadores a “marcharem em direção ao parlamento” — que dali a poucas horas iria se incumbir de oficializar a eleição dos delegados escolhidos para eleger o novo presidente. Essa oficialização representa de fato a própria posse de um novo presidente, já que a cerimônia prevista para o próximo dia 15/1 não passa mesmo de uma cerimônia.

Mas a oficialização teve que esperar um pouco mais. É que cerca de 120 pessoas, entre aquelas pouco mais de duas mil que estiveram no comício, derrubaram as cercas dos jardins do Capitólio e avançaram em direção à porta de entrada principal, arrombaram-na e depredaram tudo o que viram à sua frente, tudo sob os olhares complacentes da guarda parlamentar. A certificação dos delegados eleitos só viria a ser realizada três horas depois, após a evacuação do prédio em operação pacífica. No tumulto da invasão, quatro mortes ainda não esclarecidas quanto a autores e circunstâncias. Constatação primeira: o que assistimos foi a mais grave agressão à democracia dos EUA desde a guerra civil do século XIX, já que o que desta vez foi alvejado constitui uma das mais preciosas joias da coroa democrática: a alternância do poder.

Tentativa de golpe de estado? Não. Trump é reconhecido psicopata, mas não burro ao ponto de tentar um golpe de estado sem o devido apoio militar, apoio para uma ação dessa natureza que desde sempre ele soube não possuir, dada a existência de sua vasta rede de informantes e espiões, de reconhecida eficiência. Mas por que, então, Trump ordenou a seus cães selvagens, oriundos de diversos estados do país, que invadissem o parlamento? Aqui entra uma conclusão de decisiva importância no curto, médio e longo prazos para o desenrolar das lutas de classes nos EUA e no mundo: Trump lançou a pedra fundamental de um movimento fascista nos EUA, centrado em sua figura, no local certo e no momento certo. É neste sentido que podemos assegurar que sua iniciativa de 6/1 foi amplamente vitoriosa. Que se leve em conta, de imediato, que entre os invasores havia um bom número dos integrantes da seita Qanom, coesionada em torno de um enlouquecido ideário que, além de supremacista, xenófobo, homofóbico etc., inclui o propósito alucinado de barrar o crescimento de um suposto plano mundial de instalar uma rede planetária de pedofilia. Isso mesmo. Detalhe: tal seita conta com cerca de 30 milhões de adeptos nos Estados Unidos – segundo estudos de conceituado cientista político daquele país.

Que Donald Trump quer desfechar um golpe fascista não há dúvida, haja vista inclusive seu comportamento ainda mais perturbado que de costume desde o momento em que foi constatada sua derrota nas urnas pelo democratão Joe Biden, tão inimigo dos trabalhadores quanto Trump, cúmplice e coformulador da investida imperialista assassina conhecida como “primavera árabe”, desencadeada sob a liderança de Barak Obama. Os tempos e o terreno político são extremamente férteis para Trump: a crise econômica mundial, a crise interna nos EUA, com sua particularidade da perda de empregos, a ascensão da China como primeira potência econômica mundial já despontando no horizonte, o desmantelamento do bloco europeu etc. etc. Tempos promissores para os devaneios de um fascista, tempos que anunciam a possibilidade de tais devaneios se concretizarem.

Em resumo, podemos dizer que Donald Trump foi o grande vencedor nesse já histórico 6/1/2021.

E Bolsonaro, o Trump subdesenvolvido? Mestre vitorioso, discípulo contente. Não passará despercebida ao presidente eleito por mais de 55 milhões de brasileiros a possibilidade, e necessidade, de seguir o caminho aberto por Trump. Base para isso ele tem. E, na manga, uma carta poderosíssima: ele sabe que, no limite, pode contar no tempo e momento apropriados com o apoio das forças armadas brasileiras, que jamais aposentaram seus sonhos de volta à ditadura. Se Trump tem a seu favor a inexistência de uma esquerda séria em seu país, Bolsonaro pode igualmente ostentar tal vantagem. O mesmo com respeito à hegemonia política e ideológica das vergonhosas e reacionárias pautas identitárias no interior das tímidas movimentações do proletariado. Tímidas, e progressivamente mais tímidas, exatamente em função do prevalecimento dessas mesmas pautas identitárias nas mobilizações. Enquanto isso, a esquerda brasileira pensa e age exclusivamente em função de eleições, um caso próximo ao psicopatológico. A esquerda brasileira é democrática — estamos falando da grande e esmagadora maioria da esquerda —, contrarrevolucionária portanto. Assim, enquanto tal esquerda espera sentada a chegada do glorioso ano de 2022, quando “vamos derrotar Bolsonaro e restabelecer a democracia no país”, Bolsonaro vai preparando e alimentando seu golpe fascista. É disso que se trata.

Aos comunistas nos cabe, mais que nunca, desenvolver e liderar as lutas parciais do proletariado na linha de acumulação de forças e criação de um núcleo marxista leninista capaz de avançar, passada a atual tempestade, com segurança em direção à revolução proletária no país.

Venceremos!

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