Eleições na Venezuela e a crise que se avizinha

Eleições na Venezuela e a crise que se avizinha

Nas eleições para a Assembleia Nacional da Venezuela, realizadas no último dia 6/12, houve 70% de abstenções. Dos votos válidos, o Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV) e seus aliados obtiveram 91%.

Nós, do Movimento Marxista 5 de Maio, queremos de saída deixar claro que sempre fomos alinhados à Revolução Bolivariana, apesar das críticas que temos ao atual governo da Venezuela. Críticas que, ao contrário de segmentos da esquerda reformista e trotskista — que usam a Revolução Bolivariana em proveito de suas organizações —, fazemos a partir de um ponto de vista marxista leninista e de uma genuína estratégia proletária.

Com base nesse pressuposto é que não compartilhamos do otimismo exacerbado e exagerado da maioria das organizações da esquerda, dentro de fora da Venezuela, quanto ao resultado das eleições parlamentares do último dia 6 de dezembro. Ao contrário da visão triunfalista manifestada por essas organizações, consideramos que as eleições parlamentares acenderam a luz amarela para a Revolução Bolivariana. Afinal, se queremos manifestar solidariedade, temos que primeiro praticar o princípio de dizer sempre a verdade e apresentar a realidade como ela é, sem maquiagens ou subterfúgios. Vejamos.

A abstenção de cerca de 70% do eleitorado venezuelano significa que a Revolução Bolivariana vem, na prática, perdendo significativo apoio entre os trabalhadores, que a Revolução Bolivariana vem perdendo bases políticas e ideológicas de apoio entre o proletariado venezuelano. Mas que não se culpe o proletariado venezuelano por essa situação. Um proletariado que vem passando por imensas dificuldades de sobrevivência — inclusive em sua alimentação —, devido ao bloqueio econômico imposto pelo imperialismo mundial à Venezuela. Bloqueio que continuará sendo intensificado e aprofundado pelo recém-eleito presidente dos EUA, Joe Biden, e apoiado internamente pela burguesia e pequena-burguesia venezuelanas.

É muito preocupante, portanto, que a erosão nas bases de apoio ao governo bolivariano ocorra justamente no momento em que a conjuntura política aponta para um quadro de agravamento ainda maior das agressões imperialistas, que continuam sendo intensificadas por campanhas midiáticas cada vez mais agressivas contra o governo Maduro.

A grande pergunta é: para onde vai a Revolução Bolivariana? O que fazer para fazer a Revolução Bolivariana avançar na perspectiva proletária? Nós, do MM5, consideramos que, em curtíssimo prazo, a nova Assembleia recém-eleita deve tomar medidas capazes de mitigar algumas das dificuldades enfrentadas pelo proletariado venezuelano, de forma a também impedir que, internamente, a direita tente manipular as legítimas manifestações proletárias de descontentamento com a atual situação social e econômica do país.

Para isto, é preciso que a Revolução Bolivariana mobilize o proletariado venezuelano e suas organizações de base — como as milícias bolivarianas e a maioria das Forças Armadas Bolivarianas — a partir de propostas e consignas que tenham efetiva capacidade de radicalizar e coesionar a classe para o necessário aprofundamento da luta anticapitalista e ruptura (sim: ruptura) com as instituições burguesas.

Nesse sentido, o MM5 propõe a criação da Frente de Unificação Revolucionária Bolivariana (FURB), a partir do coesionamento em torno de três consignas fundamentais: fortalecimento do poder comunal; estatização do sistema bancário e de empresas multinacionais; e correlação imediata dos preços, com um correspondente ajuste geral de salários, de forma a evitar a carestia. Em outras palavras, são consignas para o enfrentamento direto com o capital privado e suas instituições, mas a partir do objetivo estratégico de acumular forças para a irrupção de uma insurreição proletária que aprofunde e concretize a Revolução Bolivariana.

É este o marco estratégico que defendemos. Como marxistas leninistas que somos — e ao contrário do que pregam reformistas e gramscianos —, entendemos que revoluções não acontecem espontaneamente ou como resultado de um longo processo de acumulação por dentro das instituições burgueses. Revoluções não caem do céu. Revoluções são feitas — obviamente que numa conjuntura específica — por meio de uma insurreição proletária para a instauração de um estado verdadeiramente proletário.

É isto o que a maioria da esquerda, dentro e fora da Venezuela, infelizmente não compreende. No país de Bolívar, por exemplo, há partidos (como PCV, PRT e Tupamaros) que reivindicam o leninismo, mas que, por não entenderem a importância da insurreição como marco estratégico da revolução proletária, terminam caindo, mesmo que involuntariamente, no mesmo campo de reformistas e trotskistas, cujas posições teleológicas nunca consideram a afirmação de Lenin sobre a necessidade de analisar concretamente cada conjuntura específica e suas reais possibilidades. É por isto que as organizações citadas (PCV, PRT e Tupamaros) não foram capazes de formular estratégias efetivamente revolucionárias para a Venezuela, apesar de suas autoproclamadas “boas intenções”.

No mundo inteiro, a Venezuela é atualmente a formação social na qual as condições estão mais maduras para o avanço de um processo revolucionário, apesar da ausência de organizações que proponham uma estratégia revolucionária em termos marxistas leninistas, uma estratégia insurrecional. A Venezuela é a formação social que possui a classe trabalhadora mais radicalizada nas lutas de classes, mais organizada politicamente e com mais disponibilidade ideológica de continuar na luta pela consecução de seus objetivos.

Se a Revolução Bolivariana não avançar na perspectiva do aprofundamento e da radicalização do conflito com o grande capital e o imperialismo, ela necessariamente irá recuar, como já demonstrado em várias ocasiões da história, sendo o mais conhecido de todos o trágico caso do Chile de Salvador Allende.

A nós, comunistas que apoiamos a Revolução Bolivariana, cabe lutar para que a luta do proletariado venezuelano avance e supere os limites impostos pelo reformismo e as hesitações das organizações de esquerda naquele país.

Venceremos!

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