O presente e o futuro político da pandemia

O presente e o futuro político da pandemia

A pandemia expõe as vísceras do capitalismo. A venal mídia brasileira se esforça para escondê-la com a absurda complacência de parte da esquerda. Reformistas, trotskistas e demais desvios da esquerda antimarxista não se comprometem com a denúncia aberta das atrocidades cometidas pelos representantes do Capital na pandemia. Os Estados capitalistas relegaram ao arbítrio do mercado o combate à Covid. A guerra das vacinas – e os conflitos entre as nações pelos mercados de saúde – expressam a concorrência assassina do capitalismo. Os países competem entre si, a despeito das vidas humanas. Vide a desqualificação da vacina russa Sputnik pelo governo norte-americano. No Brasil, o psicopata Bolsonaro alimenta uma insana guerra fria contra a China. É previsível o avanço de mortes nos próximos meses, nas nações pobres da Ásia e da África. Em contraposição às suas antigas colônias, os países do centro das economias capitalistas apresentam números mais modestos da pandemia, já em vias da estabilização.

A maioria dos mortos da pandemia pertence à classe trabalhadora. Pouquíssimos empresários sucumbiram à doença. O morticínio causado pela pandemia é uma questão de classe. Lembremos que isso é característico das sociedades de classes. Na Idade Média, a nobreza trancava-se em seus castelos enquanto os camponeses eram dizimados pela peste negra.

Vidas humanas não interessam ao capitalismo. São vistas apenas como mão de obra. O genocídio causado pela pandemia só se torna problema ao Capital por destruir os trabalhadores de onde é arrancada a mais-valia. O desenvolvimento tecnológico das últimas décadas levou ao aumento do exército de reserva (desempregados, desalentados etc.). Podemos supor que haja a intenção de destruir — sacrificar, como um animal imprestável — esse excedente de trabalhadores ao redor do mundo. Bem ao gosto de calhordas como o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Os mais de US$ 350 bilhões de reservas cambiais brasileiras não foram usados para salvar vidas dos trabalhadores. Essas reservas existem para “salvar” os bancos e a grande burguesia. A morte e o sofrimento de milhões pela Covid, o desemprego, a falta de assistência médica e toda a sorte de humilhações a que o proletariado é submetido diuturnamente não têm qualquer relevância quando se trata dos recursos de banqueiros e grandes empresários. Bolsonaro sequer usou os valores contingenciados para o combate à pandemia em 2020. Ao contrário, seu governo ataca cotidianamente o SUS e dá aviltantes R$ 150 aos trabalhadores, a título de auxílio emergencial. Para a burguesia só há dois fatores a se considerar: lucro ou prejuízo. E o SUS representa prejuízo. A morte de centenas de milhares de trabalhadores? Irrelevante, dizem os vassalos do Capital.

Já as nações socialistas tiveram números discretos entre os mortos. Mesmo a Venezuela — uma social-democracia radicalizada — teve muito menos mortos que a Colômbia, embora sejam países muito similares geográfica e demograficamente. Enquanto os trabalhadores na Índia, ou mesmo nos EUA, morrem aos milhares Cuba, apresenta números ínfimos e avança na pesquisa de 4 novas vacinas contra o coronavírus.

Fascismo e pandemia

O fascismo rompe com o ganho renascentista de valorização da vida. Na Idade Média, a morte tinha valor acima da vida. Afinal, através dela se alcançava o “reino dos céus” — ao menos aqueles que em vida submeteram-se resignadamente ao sofrimento. Remontando ao período pré-republicano, o fascismo é presidido pela ideologia da morte e da guerra. É no fascismo que se dá  lógica ao extermínio de vidas humanas como necessário para a superação da crise cíclica do sistema. Somente através dele e da destruição de parte das forças produtivas é possível um novo ciclo de crescimento capitalista. Trotskistas — enquanto tais — jamais conseguirão compreender o ciclo da crise profunda do capitalismo, de declínio-destruição-crescimento. Afinal, o Programa de Transição de Trotski “decreta” o fim do capitalismo no alvorecer do século XX. É, portanto, antidialético e anti-marxista.

É importante ressaltar que o período de ditaduras militares no mundo está superado. Elas foram fruto de alianças entre o poder popular dos militares — cevado no pós-II Guerra Mundial — e burguesias nacionais, no interesse destas últimas. Não se pode falar hoje em interesses da grande burguesia nacional. A atual fase imperialista do capitalismo, assim como o interesse globalizado, transnacional, da grande burguesia, não dá margem a interesses locais. O Capital não tem pátria. Logo, para garantir a retomada do ciclo de crescimento exige-se — por parte dos capitalistas — o fascismo como regime de organização do Estado. E o projeto fascista de Bolsonaro já está em construção. Suas bases são policiais milicianos, classe média degenerada, religiosos facínoras e marginais de toda sorte.

Eleições 2022

As últimas pesquisas apontam uma larga vantagem de Lula nas eleições de 2022. Se eleito, será obrigado a entregar parcelas — mesmo que irrisórias — dos recursos do Estado aos trabalhadores. A burguesia não poderá tolerar isso. Essa crise não se resolverá em curto prazo. Como dissemos acima, o Capital necessita de alternativas que garantam suas margens de ganhos.

E qual a saída?

A revolução comunista! A democracia não fará frente ao fascismo. Lembremos que a maioria do Congresso brasileiro — eleitos através do voto democrático, composto em sua maioria de criminosos, degenerados ou desqualificados — aprovou a privatização da vacina contra o coronavírus ao permitir a sua compra por empresas privadas.

O combate ao fascismo é o combate às suas bases econômicas. Foi assim na Rússia, na Alemanha e na Espanha. O proletariado só tem como única alternativa para o seu interesse a tomada revolucionária do Estado para a imediata instauração do seu Estado de classe: a ditadura do proletariado. A ilusão na democracia — assim como foi em todas as experiências históricas — levou o proletariado a permanecer como vagão carreado pela locomotiva burguesa. O caminho a ser percorrido não será sem obstáculos ou fácil. A burguesia não hesitará em lançar mão do fascismo para não entregar o poder direto ao proletariado. Socialismo ou barbárie.

De seu lado, reformistas e trotskistas, inebriados que estão com suas ilusões democráticas, são incapazes de compreender do que de fato se trata a atual conjuntura. A esquerda precisa urgentemente fazer uma autocrítica profunda no campo do leninismo, para a recuperação da via revolucionária como caminho da libertação classista do proletariado, rumo à sociedade sem classes e ao comunismo!

Venceremos.

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