Carta à esquerda sobre a crise do MM5

Carta à esquerda sobre a crise do MM5

Camaradas,

A grave crise por que passa o Movimento Marxista 5 de Maio (MM5) precisa ser explicada nas suas origens. E a causa próxima dessa crise teve sua origem no ato de insubordinação do ex-camarada Roberto Simões, que resolveu, ao arrepio da disciplina leninista, publicar críticas ao artigo intitulado “O coronavírus e a crise capitalista”, que havia sido escrito pelo camarada Leo Leal e referendado pela coordenação nacional de nossa organização.

Inconformado com a derrota de suas posições críticas ao referido artigo, Roberto Simões afirmou que o texto negava ser a China um país socialista. Isto não é verdade. Basta uma leitura do artigo. Roberto Simões não só desrespeitou decisão da coordenação nacional, como tentou desqualificar o autor do texto (Leo Leal), ao chamá-lo de ‘companheiro redator’, e não camarada. Com tais desqualificações e desrespeito à disciplina leninista, Roberto Simões instalou a crise no interior do MM5.

Para isto, Simões obteve o apoio de outros ex-camaradas (Adriana Penna e Luiz Sergio Cesar), que com ele se organizavam informalmente como uma fração clandestina no interior do MM5. Fração que viria a ser autodenominada ‘Matuzalém’ e que, em plenária realizada dia 26 de setembro, aplicou uma manobra golpista que constituiu uma “maioria” de votos artificial. Uma “maioria” obtida por meio do recrutamento fraudulento de uma ex-militante do MM5, pessoa da área de amizade pessoal de Roberto Simões e sem qualquer relação orgânica com o MM5.

Como resultado, a fraudulenta plenária de 26/9 “aprovou” o nosso “desligamento” do MM5.

Afirmamos (e reafirmaremos) que não aceitamos nem reconhecemos a tentativa criminosa da plenária fraudulenta de desligar do MM5 os camaradas Adriano Boaventura, André Pelliccione, Leo Leal e Márcio Gabriel.

Frisamos ainda que, no seu devido tempo, os usurpadores terão que prestar contas à história por suas práticas golpistas. Práticas, portanto, anti-leninistas e anti-marxistas.

Desde maio deste ano, os usurpadores liderados por Roberto Simões já vinham tentando minar a estratégia proletária que sempre pautou as práticas e intervenções do Movimento Marxista 5 de Maio nas lutas de classes, sobretudo na frente sindical. Cumpre destacar que ainda não havia evidências materiais de que uma fração golpista estava se formando no interior do MM5, o que só obtivemos posteriormente e que hoje já se encontra fartamente documentado por postagens e posicionamentos assumidos pela referida fração, que no entanto já atuava muito antes de se estruturar enquanto tal.

Em relação a este ponto, a fração Matuzalém afirmou, em recente documento divulgado à esquerda e recheado de falsificações, que teríamos “violado” o estatuto do MM5 ao nos constituirmos como um “grupo” de militantes no interior da organização. Na verdade, foi justamente o contrário. Quem violou o estatuto do MM5 foi Roberto Simões e seu grupo de ex-camaradas, no momento em que se constituíram como fração. De nossa parte, enquanto grupo de militantes, só nos organizamos separadamente após havermos constatado — e comprovado — a existência da fração Matuzalém. Naquele momento nos identificamos abertamente enquanto um grupo e o fizemos sem nenhuma mentira ou manobra.

A sabotagem à nossa estratégia marxista leninista vem, desde a plenária nacional realizada em maio de 2020, sendo paulatinamente intensificada por uma defesa cada vez maior de concepções e práticas sindicaleiras, movimentistas e pequeno-burguesas feitas pelos usurpadores. A título de exemplo, Roberto Simões e sua fração propunham que o MM5 — contrariando abertamente nossa estratégia — passasse a fazer concessões ao oportunismo pequeno-burguês no quadro geral da luta de classes.

Roberto Simões e sua fração também passaram a criticar os processos de recrutamento de novos militantes que historicamente sempre adotamos no MM5. Processos esses pautados pelo rigor marxista leninista e, portanto, pela impossibilidade do ingresso de pessoas que não se disponham a romper com suas ideologias pequeno-burguesas ou com suas concepções místico-religiosas. Ao criticarem os processos de recrutamento do MM5, os usurpadores tinham como objetivo fazer ingressar na organização pessoas próximas de seus relacionamentos pessoais, e não militantes comprometidos com o programa e as estratégias do MM5.

Em outro ponto de discórdia — este ocorrido quando a fração golpista já se constituíra e fora flagrada por nós em sua atividade —, Roberto Simões e seu grupo tentaram relativizar uma das mais importantes decisões estratégicas de nossa organização: a de que defendemos (e continuaremos defendendo) a posição do voto nulo em todas as eleições burguesas, independente de onde sejam realizadas. A defesa do voto nulo, diga-se aqui, já fora inúmeras vezes referendada em plenárias do MM5. Fato que, cinicamente, a fração golpista fingiu desconhecer.

Foi mais uma demonstração de oportunismo, um estratagema utilizado daquela fração no sentido de ocultar sua real intenção, qual seja: “flexibilizar” a política de defesa de voto nulo e abrir caminho ao oportunismo eleitoreiro-taticista. Tanto assim que, nas eleições de 2018, muito antes portanto de emergir a atual crise no interior do MM5, Roberto Simões chegou a sugerir a hipótese de apoiarmos a candidatura de direita do então ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) ao governo do Rio, no que foi prontamente rechaçado.

Cumpre destacar que, nas propostas defendidas por Simões e seus companheiros, salta aos olhos a confusão (teórica, política e conceitual) entre militância e ativismo; entre luta sindical e luta política travada por uma organização leninista. Também salta aos olhos o completo desconhecimento quanto ao papel a ser desempenhado pelos comunistas no interior dos sindicatos e da institucionalidade. Um exemplo dessa confusão foi algumas vezes expresso por Roberto Simões em relação às eleições sindicais das quais os militantes do MM5 participaram na disputa pela direção do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe-RJ), em 2017. Ao comentar a formação de chapa constituída por militantes de nossa organização com membros do PT e de outras correntes no interior do Sepe, Simões afirmou, inúmeras vezes, que “estávamos nos aproximando do PT”, demonstrando assim não entender o significado de uma aliança circunstancial e pontual (portanto, não programática) entre duas ou mais forças políticas que se unem para constituírem uma chapa sindical. Falta de compreensão que expressa a visão sindicaleira de Roberto Simões e sua fração.

A falta de rigor marxista leninista, a falta de princípios, o oportunismo e a confusão teórica, política, conceitual e ideológica de Roberto Simões sempre foram, por sinal, bastante criticados pelos militantes do MM5 nos últimos anos. Fato que, no documento intitulado ‘A natureza da crise do MM5’, escrito em resposta aos ataques movidos por Simões a toda a nossa organização, levou o camarada Leo Leal a propor uma autocrítica de todos os militantes do MM5 por não terem enfrentado com mais veemência os desvios pequeno-burgueses de Roberto Simões.  Foi neste documento que o camarada Leo Leal, inclusive, propôs o afastamento de Roberto Simões da coordenação nacional do MM5. Proposta feita de maneira clara, fraterna, honesta, camarada e objetiva, enumerando fatos e ocorrências que mostram a total incapacidade (teórica, política, ideológica e emocional) de Roberto Simões continuar integrando a coordenação nacional de nossa organização. O que gerou reações furiosas e ataques ainda mais virulentos de Roberto Simões ao camarada Leo Leal.

Ataques que se intensificaram ainda mais após a plenária nacional do MM5 realizada em maio de 2020, quando Roberto Simões não conseguiu aprovar suas propostas sindicaleiras para a organização.

Naquela mesma plenária, após a votação final, Simões partiu para insultos ao camarada Leo Leal, que na ocasião era secretário-geral do MM5 e integrava a coordenação nacional de nossa organização. Insultos e impropérios que levaram o camarada secretário-geral a abandonar a plenária, dado o nível rasteiro e desrespeitoso dos ataques desferidos por Simões.

Esta agressão gratuita (mais uma) de Roberto Simões a todo o conjunto do MM5 foi um dos motivos que levaram o camarada Leo Leal a deixar a coordenação nacional e reafirmar a proposta de saída de Roberto Simões da coordenação, o que também endossamos. Desde então passamos a defender não somente a saída de Simões da coordenação nacional do MM5, mas também a eleição de uma nova coordenação.

A discussão e o enfrentamento da crise instalada no interior do MM5 passou a ser, a partir naquele momento, a nossa reivindicação de ponto único para a próxima plenária da organização, cuja primeira sessão aconteceu em junho e teve de ser suspensa sem deliberações concretas, após rigoroso empate nas votações sobre a proposta de enfrentamento da crise. Proposta — diga-se aqui — sempre negada e ferozmente combatida por Roberto Simões e seu grupo, que tudo fizeram para não entrar no cerne da discussão.

O mesmo impasse continuou na sessão de retomada da plenária, ocorrida em 12 de julho, quando mais uma vez se verificou rigoroso empate nas votações, levando a uma nova suspensão da plenária e à previsão de sua retomada num prazo de até 30 dias.

Foi nesse ínterim, contudo, que Roberto Simões e seu grupo promoveram o recrutamento fraudulento de uma ex-militante do MM5. Ela foi fraudulentamente recrutada exatos 18 dias antes da plenária, sem qualquer discussão prévia e sem comunicar ao conjunto da organização.

Tão logo tomamos conhecimento do golpe, nos recusamos abertamente a participar das sessões de retomada daquela plenária. A primeira delas, dia 12/9, e a segunda, no dia 26 de setembro. Denunciamos internamente a farsa que estava sendo montada. Farsa que, na sessão fraudulenta do dia 26/9, “aprovou” o nosso “desligamento” do MM5.

Mais uma vez, deixamos claro que não reconhecemos o nosso desligamento do MM5. Reivindicamos a estratégia proletária que originalmente estruturou a nossa organização. Reivindicamos a história do Movimento Marxista 5 de Maio e não vamos entregá-la a um grupo de aventureiros oportunistas.

O desrespeitoso método de proferir insultos e xingamentos tem sido a prática adotada por Roberto Simões e seu grupo ao longo de toda a crise. Quando, por exemplo, cobramos que a coordenação nacional do MM5 (já sem o camarada Leo Leal) apresentasse uma proposta de discussão e enfrentamento da crise, obtivemos como “resposta” novos insultos e impropérios. Fomos inclusive qualificados de “traidores”, numa prática inconcebível para uma organização que se pretenda marxista leninista.

No seu recente documento enviado à esquerda, assinado pelos ex-camaradas Roberto Simões, Adriana Penna e Luiz Sergio Cesar, os usurpadores nos acusam de termos agido com “autoritarismo”, “arrogância” e “soberba”. Ou seja: nos acusam de não termos agido com camaradagem. No entanto, os que nos xingaram de “traidores” não têm nenhuma autoridade (moral ou política) para nos falar em camaradagem. Não aceitamos lições de moral de quem não tem moral alguma para nos dar lições.

Sobre os comportamentos pequeno-burgueses de Roberto Simões, cabe acrescentar a necessária crítica à atuação desse ex-camarada quando de suas viagens à Venezuela para acompanhar o camarada Leo Leal como representante do MM5 naquele país. Naquelas ocasiões, Roberto Simões agiu o tempo todo de forma individualista, mais parecendo um “turista” do que um militante de uma organização revolucionária. Seu comportamento na Venezuela foi tão inconcebível e inaceitável que, em 2017, a coordenação nacional do MM5 recusou a solicitação de Simões de acompanhar o camarada Leo Leal em mais uma viagem à Venezuela. Fato que, já naquela época, desencadeou uma onda de ódio e revanchismo por parte do agora golpista.

Seguiremos empunhando a bandeira do marxismo leninismo e da necessidade de uma estratégia proletária para a revolução brasileira.

Colocamo-nos à disposição dos camaradas da esquerda que, pessoalmente, queiram se inteirar dos elementos que conformam a atual crise de nossa organização.

Venceremos.

Rio de Janeiro, 7 de outubro de 2020

Coordenação Nacional do MM5

 

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