A guerra na Ucrânia e a revolução proletária

A guerra na Ucrânia e a revolução proletária

Antes de mais nada: o Movimento Marxista 5 de Maio-MM5/Brasil declara seu apoio à Federação Russa e ao presidente Vladimir Putin na operação de invasão ao estado protonazista da Ucrânia desencadeada a partir do dia 28 de fevereiro passado. Ponto.

Nos termos em que está formulada esta declaração, buscamos dois objetivos fundamentais. Em primeiro lugar, fixarmo-nos na linha das palavras de Marx/Engels no “Manifesto Comunista”, segundo as quais os comunistas não ocultam seus objetivos – nem disfarçam seus posicionamentos, acrescentamos nós. Em segundo, temos em Lênin a necessidade do uso rigoroso das palavras, de forma a que não se prestem à manipulação pelos inimigos do proletariado. Assim, é preciso dizer com todas as letras que se trata de uma invasão mesmo. Se à Rússia interessa diplomaticamente afirmar tratar-se de uma “operação”, isto é compreensível como razão de estado. Como razão revolucionária, contudo, nosso compromisso é, inclusive, levar a compreensão dos fatos ao proletariado, tarefa que nos proíbe o recurso à imprecisão, ao ludibrio, à manipulação. Ora, a transposição armada das fronteiras de um país sem o consentimento deste configura indiscutivelmente uma invasão – e o choque bélico daí decorrente tem o nome inescapável de guerra. Suponhamos: se os Estados Unidos plantam tropas no território da Venezuela, estaremos diante de uma invasão, não é? E se as forças armadas venezuelanas travam um confronto com a força ocupante estaremos diante de uma guerra. Simples assim.

É por isso que não se pode admitir o posicionamento mesquinho, pequeno-burguês, de segmentos da esquerda que, a pretexto de salvaguardar princípios firmados na época histórica da construção e consolidação dos estados burgueses, erguem as bandeiras reacionárias da “autodeterminação dos povos”, “paz mundial”, “soberania nacional” etc. etc. Afinal de contas, os comunistas não devem ser obrigatoriamente internacionalistas? O proletariado é internacionalista por princípio. Onde, então, tais grupamentos de esquerda foram buscar o posicionamento reacionário pró-imperialista de condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia? No interior de que lógica o fazem? Resposta: na lógica conservadora e conciliadora do reformismo e no messianismo trotskista. É preciso não se esquecer de que, ainda no ano de 1940, Lev Trotsky declarou desejar o sucesso de Hitler em seu plano já anunciado de invadir a União Soviética. Quanto ao reformismo (também hoje fantasiado de gramscianismo), este vem dando desde meados da década de 50 do século passado demonstrações e mais demonstrações de alianças e composições  com as “burguesias” nacionais. Resultado em ambos os casos: derrotas e mais derrotas sangrentas sofridas pelo proletariado.

Que parâmetro, então, deve balizar análises e posicionamentos dos revolucionários e comunistas? Resposta: os interesses concretos e históricos do proletariado. E vai longe o tempo em que a pequena burguesia compartilhava interesses com o proletariado, um tempo da emergência do capitalismo industrial em que camponeses submetidos à servidão e/ou à semisservidão eram despojados de suas propriedades e casas no campo e acorriam às cidades em busca de  sobrevivência. Esta é era histórica superada, fato jamais compreendido pelo reformismo. Que se entenda, ainda em Lênin, que não se pode compreender a pequena burguesia apenas pelo lugar que ocupa nos processos de produção no capitalismo. É importante – e hoje decisivo – ter em conta o lugar da pequena burguesia nos processos e aparatos de circulação do capitalismo, ou seja, no consumo, que é o espaço sócioeconômico em que se realiza a mais-valia. E é por isso que não se pode hoje considerar bancários, comerciários e professores primários e secundários pequenos burgueses, já que ganham salários semelhantes aos dos operários de segmentos mais consolidados do processo de produção. Pelo que recebem por seu trabalho, tais categorias já podem ser catalogadas como integrantes do proletariado – dos de baixo, como formulou Marx.

Já os integrantes das capas superiores da classe média assumiram desde já há algum tempo – e principalmente a partir da implantação da forma neoliberal do imperialismo – a condição de uma burguesia pequena, compartilhando com a grande burguesia ideologia, (in)consciência política, sentimentos, aspirações e… capacidade de consumo! E, diga-se, seja qual for a dimensão de uma das inevitáveis crises cíclicas do capitalismo, como a que hoje vivemos, não se espere nenhuma condescendência destes burgueses pequenos: sua proposta política será sempre a de aprofundar a exploração sobre o proletariado e exterminar aqueles que lutam pela libertação dos explorados, com os comunistas em primeiro lugar da fila. É disso que se trata.

É preciso, pois, identificar os interesses do proletariado no cenário histórico-político desta guerra da Ucrânia.

Sabe-se, por primário, que os interesses do imperialismo são antagônicos aos do proletariado. Será que alguém em gozo de suas faculdades mentais ainda acredita na balela do desenvolvimentismo? Deixemos isso de lado. O fato é que o que é bom para o imperialismo é ruim para o proletariado. Registre-se inicialmente que já desde o fim da segunda guerra mundial, e aqui somente para demarcarmos um período, o imperialismo vem desenvolvendo ações de toda natureza – bélicas, econômicas, ideológicas, diplomáticas etc. – com o objetivo de retomar a Europa do Leste. É assim que deve ser considerado o lançamento de bombas atômicas sobre as populações civis das cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki, ao custo instantâneo de mais de 200 mil vidas de inocentes. A mentira imperialista foi de que era preciso acabar com a resistência japonesa e dar fim à II Guerra. Mentira. Na realidade o objetivo foi o de dar uma demonstração de força para intimidar a União Soviética. Não conseguiram. Em 1949 a URSS concluiu a fabricação de sua bomba atômica. Para o imperialismo, portanto, o caminho da guerra nuclear estava fechado. Recorreu-se então à velha estratégia de cerco e aniquilamento. Assim, foi assinado em abril de 1949 o Tratado de Washington, que criou a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN.

O objetivo declarado da OTAN foi o de impedir o avanço da União Soviética sobre a Europa Oriental. Não, mais uma mentira. O objetivo sempre foi o de avançar sobre a parte leste da Europa, URSS incluída. Com a morte de Stálin em março de 1953 e a consequente ascensão de Nikita Kruschev na URSS, o bloco socialista passa a adotar a chamada política de coexistência pacífica, que na prática significou a abertura das portas dos países para o imperialismo, inclusive com a contratação de enormes e impagáveis dívidas com o sistema financeiro imperialista, que, principalmente a partir da eleição de Reagan nos EUA (1981), adota um plano tático de sufocamento financeiro dos devedores. É no interior deste quadro que se intensificam os esforços do imperialismo em todos os campos: econômico, político, propagandístico, bélico e religioso — sempre lembrando que o “Ocidente” assassinou o papa João Paulo I e colocou em seu lugar o agente da CIA chamado João Paulo II, que montou na Polônia uma central de sabotagem organizada sob a seguinte palavra de ordem: Destruir o Socialismo! A União Soviética e demais países socialistas do Leste Europeu, em processo de enfraquecimento desde a ascensão de Kruschev, não resistiram, não tiveram como resistir. O próprio secretário-geral do Partido Comunista da URSS, Mikhail Gorbachev, que assumira o cargo em 1985, prepara o país para a entrega à OTAN, ao imperialismo, com a adoção de políticas destruidoras do que restara do país: a perestroika e a glasnost, instrumentos de liberalização da economia e da política. Coube ao alcoólatra degenerado Boris Yeltsin entregar a chave da casa aos conquistadores.

Com a derrota da URSS, o tratado militar dos países socialistas do Leste, o Pacto de Varsóvia,  foi desmontado, o que fez objetivamente perder de sentido a própria OTAN que, como foi dito acima, teria sido criada para conter o avanço da URSS sobre a Europa Ocidental. O que se passa então? A partir daí, a OTAN cresce vertiginosamente de seus oito integrantes originais para 30 (trinta) componentes, cooptados os agora países ex-socialistas. Olhando-se o mapa atual, é facilmente observável que a integração da Ucrânia à OTAN completaria o arco de cercamento da Rússia, fechando o cerco e fixando o ponto de partida para o estrangulamento. É aí que entra em cena o golpe de estado na Ucrânia, em que é deposto através da conhecida crueldade nazista o governo de Victor Yanukovych, aliado de Putin, assumindo o poder na Ucrânia um bando de neonazistas financiados pelos Estados Unidos e chefiados por um traficante chamado Poroshenko. Matam-se e se perseguem comunistas. Bandos abertamente nazistas são integrados às forças armadas ucranianas. Stepan Bandera, um agente declarado de Hitler desde a invasão da URSS pelas forças alemãs através da Ucrânia, foi transformado em herói nacional.

De imediato, dois fatores determinaram a invasão. Diante de agressões de toda natureza por tropas e milícias fascistas ucranianas a naturais russos que habitam a região do Donbass, Putin – que já havia retomado a estratégica península da Crimeia, que fora dada de presente à Ucrânia por Kruschev – determina o reconhecimento oficial pelo estado russo das repúblicas de Donersk e Luhanski. Mas o fator determinante foi o pedido do atual presidente da Ucrânia, o comediante Volodymyr Zelensky, do ingresso de seu país na OTAN. Isso seria fechar o cerco, como dissemos. Putin respondeu: “Vocês pensam que sou bobo?”.

Hoje (domingo, 6/3/22) ainda não é possível precisar o desfecho da guerra da Ucrânia. Mas é seguro dizer que Putin não recuará de seu propósito de desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia. Na realidade, a invasão criou uma nova realidade geopolítica: está sepultado o plano imperialista de invadir a Rússia e, daí, partir para a China. A China precisa da Rússia, e a Rússia precisa da China, tratando-se pois de uma aliança estratégica. O que se seguirá no cenário mundial das lutas de classes não se pode prever especificamente, mas é seguro contarmos com o aguçamento local de lutas de classes radicalizadas por todo o mundo. Está de volta, companheiros, um tempo de revoluções proletárias.

VENCEREMOS!

 

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