A constituinte chilena e o reformismo na América Latina

A constituinte chilena e o reformismo na América Latina

No ano de 2020 o Chile foi varrido por grandes manifestações de rua. O proletariado e seus aliados fizeram manifestações contra os cortes de direitos fundamentais como aposentadoria, moradia e alimentação. Ataques potencializados pela pandemia de covid.

O anseio radicalizado por mudanças pode servir ao avanço da independência da classe trabalhadora. O Estado capitalista — um dos maiores responsáveis pela miserabilização do proletariado — pode e deve ser questionado. A busca pelo controle proletário do poder deve ser posta em pauta, mostrando que o caminho é a revolução socialista rumo ao comunismo, e não a conciliação de classes. No entanto, qual foi o desdobramento daqueles protestos? A formação de uma vanguarda radical? O coesionamento de forças proletárias? Algum passo rumo à independência de classe dos trabalhadores? Não. Desgraçadamente, as lideranças socialdemocratas e reformistas da esquerda chilena afogaram todo o ímpeto que poderia vir a tornar-se revolucionário nas águas gélidas da institucionalidade burguesa.

O resultado foi a aprovação da eleição de uma Assembleia Constituinte para reformar a carta magna chilena. Pergunta-se: em qual país do mundo alguma constituição foi capaz de mudar a realidade de morte e sofrimento dos trabalhadores? Resposta: em nenhum! E pior: a eleição dos constituintes evidenciou um abandono da própria representação classista e no seu lugar foi dado espaço a todo o lixo identitário que tem afastado o proletariado da consciência de sua própria condição de classe. Muitos dos eleitos não estão associados a nenhum partido. Bem ao gosto da crítica burguesa de condenação aos partidos políticos.

Pelos critérios estabelecidos na Constituinte chilena, cerca de metade dos eleitos deveria obrigatoriamente ser do sexo feminino. Há também cotas para indígenas. O fato de alguém ser mulher ou homem ou qualquer outro gênero o qualifica (ou desqualifica) a ser defensor dos direitos dos trabalhadores? E se caso a maioria dos eleitos de esquerda fossem homens (ou mulheres), haveriam de se ceder as cadeiras para a direita? O raciocínio deve ser o mesmo para as demais cotas. As ilusões na democracia – é preciso que todos sejam representados, dizem os democratas – impedem que se veja que o determinante nas sociedades de classe é a condição de classe: proletário ou burguês. O resto nada mais serve do que entulho imprestável à luta dos trabalhadores. E a burguesia agradece!

Ressalte-se que as abstenções foram altas nas eleições ocorridas recentemente para a Constituinte. Cerca de 40% dos aptos a votar compareceram às urnas. Mesmo sem ter uma clara noção do quanto essa tática identitária é perniciosa — e inócua —, uma relevante parte do proletariado não se sente disposta a participar desse espetáculo de horrores. Instintivamente, percebem que de fato não há perspectivas de ruptura com a institucionalidade burguesa.

Não há nenhum exemplo na história das formações sociais capitalistas provando que o caminho institucional, democrático, legalista, bem-comportado e adocicado permitiu ganhos ao proletariado. Ou a esquerda trotskista, reformista e socialdemocrata já se esqueceu de que todos os parcos ganhos que o proletariado brasileiro obteve nos governos Lula-Dilma já foram destruídos pelos governos Temer e Bolsonaro? Até quando essa esquerda, que teria o papel de dirigir o proletariado e vanguardeá-lo ao caminho revolucionário, vai continuar vendendo esse peixe pútrido da via democrática da institucionalidade?

Não! É preciso que se diga que somente pela existência de um partido revolucionário firmemente ancorado no marxismo leninismo será possível garantir um futuro de verdadeira esperança para os trabalhadores. É socialismo ou barbárie!

Venceremos!

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